A abordagem pastoral frente ao pecado – Dennis Ngien
De acordo com a ordem criada, Deus também oculta de nós toda a extensão e severidade de nossas falhas, pelas quais seríamos feitos em pedaços. Isso é um sinal de sua graça e exerce influência vital na forma de lidarmos com pessoas sobrecarregadas de falhas ou fracassos. Parte do significado de estar na comunidade da fé é carregar os pecados, os erros, os sofrimentos e as vergonhas do povo de Deus. Em sentido pastoral, como podemos restaurar o pecador rebelde sem condenar seus pecados? Alguns sugerem a abordagem totalmente honesta, isto é, apontar as falhas de uma vez só ou revelar mais do que a pessoa poderia suportar, resultando em desespero absoluto ou amargura. Essa abordagem muitas vezes é brutal e resulta na condenação hipócrita de quem pratica o mal. Outros tendem à abordagem da misericórdia absoluta, isto é, por medo de ofender o malfeitor, sonega-se grande parte da verdade sobre suas falhas ou mentiras, o que resulta em decadência espiritual ou aversão. Essa abordagem é usada com tanta frequência, que se transformou em uma forma de apologia do pecado e pode ser culpada de amar o que os outros odeiam e odiar o que os outros amam. Alguns propuseram o meio-termo entre a honestidade e a misericórdia absolutas, mas inclinando-se mais para a última. Isso pode ser útil na prática, uma vez que um pastor eficaz não vê tudo de ruim e nega o que há de bom. Nem vê tudo de bom e nega o que é ruim. Ele vê as duas coisas, mas fica com o que é bom e com o bem que pode proceder do mal, de acordo com a vontade divina. O teólogo verdadeiro age assim, isto é, considera o mal de acordo com sua essência real, sem o desculpar nem tolerar, embora ao mesmo tempo reconheça o bem como algo bom.
(NGIEN, Dennis. In: Lutero como Conselheiro Espiritual; A interface entre a teologia e a piedade nos escritos devocionais de Lutero. Tradução Rogério Portella. São Paulo: Vida Nova, 2017, pp. 111-112)