Os “Psicólogos de Plantão” – Peanuts
Existem pessoas a quem podemos chamar de “psicólogos de plantão”. Elas acabaram de ler algum livro de autoajuda, ou assistiram na TV a algum programa jornalístico sobre depressão, ou acompanharam alguma novela em que havia um personagem diagnosticado com “transtorno bipolar”. Revestidas deste manto de “conhecimento psicológico” elas se sentem encorajadas a emitir os seus “psicodiagnósticos”. Em alguns casos, movidas simplesmente por suas impressões, elas estabelecem os seus enquadramentos e rótulos.
Shermy e Patty observam, à distância, o pranto dolorido de Charlie Brown. Doídas e grossas lágrimas lhe banham o rosto. Shermy diz a Patty:
— O Charlie Brown está chorando o dia todo!
— Talvez ele seja um desajustado. — sugere Patty em seu psicodiágnóstico.
Shermy trata logo de buscar também algum fator ambiental ou explicação no meio social:
— Você acha que tem a ver com o ambiente em que ele vive?
— Vai ver ele está frustrado ou deprimido… — prossegue Patty, transportando o foco para os componentes existenciais, aliando-os aos processos neurofisiológicos…
Foi então que Shermy resolveu oferecer às suas hipóteses um mínimo de método científico:
— Vou lá perguntar.
Ao voltar da “pesquisa de campo”, Shermy transmite a Patty o seu relatório:
— Os sapatos dele estão muito apertados!
(A tirinha de Charles M. Schulz foi publicada em 19 de janeiro de 1951. Cf: Peanuts Completo: 1950 a 1952. 4a. edição. Trad. de Alexandre Boide. Porto Alegre-RS: L&PM, 2011, p. 32)