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A conta e o tempo: O que se pode fazer em um mês?

“Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta”

The Old Clock on the Stairs, 1868, Edward Lamson Henry

The Old Clock on the Stairs, 1868, Edward Lamson Henry (American Painter, 1841-1919), oil on canvas,  20,75 x 16.,25 cm, Private Collection

Um mês. Trinta dias. Quatro semanas e dois dias. Setecentas e vinte horas. Quarenta e três mil e duzentos minutos. Uma quantidade fabulosa de segundos: 2.592.000.

Quanta coisa se pode fazer em um mês? Quanta coisa se pode perder em um mês? Quanta coisa se pode mudar? Quanta se pode dizer? E quanta se pode rever? O curso de uma vida pode mudar em um mês!

Se eu pudesse voltar no tempo…”. Tolice.

Isto me lembrou um antigo soneto de Frei António das Chagas (1631-1682), clérigo franciscano e poeta português, no qual ele lamenta em uma das estrofes:

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,
Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

E o poeta conclui, nos tercetos:

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo…

(Soneto “Conta e Tempo”. Frei Antonio das Chagas, 1631-1682. In: Antologia Poética. Confira aqui.)