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Menina Lendo – Jean-Baptiste-Camille Corot

Seated Shepherdess Reading (La Petite Liseuse or Jeune Bergère assise et Lisant), 1855/61, Jean-Baptiste-Camille Corot

 Seated Shepherdess Reading (La Petite Liseuse or Jeune Bergère assise et Lisant), 1855/61, Jean-Baptiste-Camille Corot (French Realist Painter, 1796-1875), Oil on canvas, 46.5 x 38.5 cm, Oskar Reinhart Collection, Winterthur, Switzerland

Jean-Baptiste-Camille Corot (1796-1875) foi um pintor realista francês. Ele é conhecido principalmente como um paisagista, cuja pintura evoluiu da paisagem clássica para a realista. Devido a este fato, durante muito tempo a crítica subestimou os trabalhos em que o pintor francês retratou figuras humanas, colocados como apêndices no conjunto de sua obra. Desde começos do século vinte, entretanto, foram reunidas provas suficientes para demonstrar a forte paixão de Corot pela figura humana, resultando em um catálago com mais de trezentas imagens.

Dentre as figuras humanas retratadas pelo pintor parisiense destacam-se jovens modelos do sexo feminino, geralmente portando algum objeto, tais como livros ou instrumentos musicais. Nestas telas, Corot oferece uma interpretação muito pessoal e independente da figura humana. Um exame destes trabalhos salienta a importância da leitura na obra do pintor.

A tela acima, “Menina Lendo” (ou “Jovem Pastora Assentada e Lendo”), sintetiza o que se tem dito. Nela, a figura feminina preenche a paisagem, deixando ao fundo o suficiente para evidenciar o ambiente rural. O olhar do observador é direcionado ao aspecto de pose da jovem pastora, com seu porte concentrado na leitura, sua roupa composta e o arranjo feminino dos cabelos. Isolada na paisagem, a jovem assume uma posição de autonomia no tema. No segundo momento, o olhar do observador é dirigido ao fundo para o rebanho de ovelhas nas pastagens à direita. Assentada em plano alto, a jovem, em sensível constraste com as colinas ao fundo, agiganta-se na perspectiva do cenário, porém enquadrada de costas para o rebanho que lhe cabe vigiar e apascentar. À frente, o livro, e às costas, o rebanho; aquele é o assunto e este um detalhe. Assim, de início, embora a placidez e sauvidade do tema, o quadro comunica uma certa tensão. Por um lado, o dever da pastora, que deveria se traduzir em vigilância e na face voltada ao rebanho; por outro, o deleite e a introspecção espiritual da leitura. Interpretada assim, a escolha certa da jovem, absorvida em sua meditação, se traduziria em certo desleixo ou negligência. Entretanto, se o olhar e as emoções do observador superarem este terreno mais tenso, a Gestalt se fechará oferecendo uma outra mensagem: a segurança de uma pessoa bem resolvida, que sabia o que estava fazendo, discernindo com propriedade o contexto e enquadrando-se com lucidez no tempo e ocasião. “Está tudo bem e no seu devido lugar”, concluirá o observador.

DETAIL: La Petite Liseuse (or Jeune Bergère assise et Lisant), 1855/61, Jean-Baptiste-Camille Corot