“Cena do Massacre dos Inocentes” – Léon Cogniet
“Scene of the massacre of the Innocents” (Scène du massacre des Innocents), 1824, Léon Cogniet (French Academic Painter, 1794-1880), Oil on fabric, 265 x 235 cm (104,3 x 92,5 in.), Musée des Beaux-Arts, Rennes, France. Large size here.
Léon Cogniet (agosto de 1794 a novembro de 1880) foi um pintor academicista francês, que entrou para a École des Beaux-Arts, em Paris, onde estudou com Pierre-Narcisse Guérin, ao mesmo tempo em que Delacroix e Géricault. “Cena do Massacre dos Inocentes” é um óleo sobre tela de Cogniet, levado pela primeira vez à exposição em 1824. A tela é considerada a obra-prima deste pintor, que realizou vários esboços anteriores à composição final.
Escolhendo um tema tantas vezes repetido na história da arte ocidental, o pintor conseguiu ser original, entretanto. Enquanto os pintores medievais e renascentistas, em composições amplas e descritivas, retrataram o caos e o infanticídio, Cogniet mostrou apenas o medo, mais sugerindo do que revelando. A obra retrata dois planos. A cena do massacre em Belém está ao fundo. Em primeiro plano o pintor optou por selecionar um fragmento que expressa o horror do evento: uma mulher aterrorizada, tentando salvar o seu filho, impede-o de gritar ou chorar colocando-lhe a mão sobre a boca. Enquanto segura o filho envolto em suas roupas escuras, a mulher apavorada, com os olhos dilatados e também escuros, e com os pés sujos, oferece a síntese do realismo pretendido. A cena é ainda acentuada pela parede em ruínas. Nesta versão final, o artista introduziu um elemento novo em relação aos estudos preparatórios: à esquerda, descendo a escada que conduz ao ambiente em que a mulher se esconde, perseguida por um soldado, uma outra correndo traz consigo dois bebês. Isto torna ainda mais dramática a situação. Uma dramaticidade teatral, que evoca o “suspense” sobre o resultado que só poderá ser fatal. Aquele que está diante do quadro é, na verdade, o único espectador que testemunha a cena em sua totalidade, sendo capaz de perceber o perigo inexoravelmente mais próximo. Há ainda uma comoção ética diante do iminente assassinato do bebê que tem os olhos postos no espectador.
Então Herodes, percebendo que fora enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou matar, em Belém e no seu território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo de que havia se certificado com os magos. Então cumpriu-se o que fora dito pelo profeta Jeremias:
Ouviu-se uma voz em Ramá,
Choro e grande lamentação:
Raquel chora seus filhos,
e não quer consolação,
porque não existem mais.
(Citação bíblica: Mateus 2.16-18, tradução de A Bíblia de Jerualém)
O evangelista Mateus não relata simplesmente o assassinato dos filhos de Belém de uma forma asséptica ou desapaixonada. Ele se refere a um antigo lamento por um dos momentos mais tristes na história de seu povo. A profecia de Jeremias, em seu contexto imediato, era a respeito do retorno de Israel do exílio. O profeta descreve os homens das tribos do Norte, com destaque para os filhos de José (Efraim e Manassés) e Benjamim, chacinados ou exilados pelos assírios, os quais Raquel, sua avó e mãe, pranteia. O choro de Raquel por seus filhos, associado ao luto agonizante das mães de Belém, encontra explicação no registo de Gênesis, pois Raquel foi sepultada em Belém. Raquel, que “chorara de seu túmulo” durante o cativeiro, estava agora chorando em outro importante e crítico momento na história da salvação.
Este incidente, conhecido historicamente como “o massacre dos inocentes”, exemplifica o horror da violência à criança com o poder do Estado, e tem inspirado artistas desde a época romana até aos dias atuais.