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Flores de Amendoeira – Van Gogh

Almond Blossom, 1890, Vincent Van Gogh Almond Blossom, 1890, Vincent van Gogh (Dutch Post-Impressionist Painter, 1853-1890), Oil on Canvas, 73.5 X 92 cm, Van Gogh Museum, Amsterdam, The Netherlands. Large size here.

Em 31 de janeiro de 1890, Theo escreveu a Vincent informando sobre o nascimento de seu filho, a quem ele havia chamado Vincent Willem, numa clara homenagem ao irmão pintor. Van Gogh, que era muito próximo de seu irmão mais novo, começou imediatamente a preparar-lhe uma pintura com o seu tema favorito: Ramos que florescem tendo como fundo o céu azul. O presente era para ser pendurado sobre a cama do casal. Como um símbolo da nova vida que chegava, Van Gogh escolheu uma amendoeira, que floresce bem cedo em algumas regiões, anunciando ainda no início de fevereiro a chegada da primavera.

Interessante que o escritor do Eclesiastes, quando descreve poeticamente a velhice, utiliza o “florescer da amendoeira” como uma metáfora para os cabelos que se tornam brancos. A analogia é bem óbvia, por conta da coloração rósea e branca. Entretanto, o escritor sacro acrescenta logo a seguir: “Porque o homem vai para a morada eterna”.

Antes que se rompa o fio de prata
e se despedace a copa de ouro
e se quebre o cântaro na fonte
e se parta a roldana do poço
e o pó volte à terra, como antes,
e o sopro volte a Deus, seu autor.

No bonito livro do profeta Jeremias, há um momento em que Deus se dirige ao profeta: “Que é que vês, Jeremias?”. Ao que o jovem responde: “Vejo o ramo de uma amendoeira”. Jeová então esclarece: “Viste bem, porque velo sobre minha palavra para que se cumpra”. No texto hebraico tem-se um trocadilho: shaqedh (amendoeira) e shoqedh (vigio, velo). A florescência da amendoeira anuncia a primavera, pois é a primeira árvore frutífera a brotar no inverno. As flores aparecem antes das folhas, entretanto. A visão do profeta assegurava que, embora o contexto fosse adverso, Deus não estava adormecido, mas que velava para fazer Sua vontade. O ramo da amendoeira, que foi identificado por sua inflorescência, era um símbolo de esperança, de vida nova, de novos frutos. De um novo tempo que se aproximava.