Os judeus e sua estética da palavra
Moses with the Tablets of the Law, c. 1624, Guido Reni (Italian Baroque Era Painter, 1575-1642), oil on canvas, Galleria Borghese, Rome, Italy
Qual é, afinal, a ideia de estética no judaísmo? No final das contas, você constatará que nem a estética anicônica nem a visual estão implicadas no cerne das respostas estéticas judaicas à beleza do mundo. A resposta a essas perguntas reside, em vez disso, no que você gostaria de chamar a “estética da palavra” da cultura judaica, isto é, em sua singular atenção à letra, à palavra, em sua reverência pela materialidade delas — a beleza divina inscrita em cada letra do alfabeto hebraico — e em sua capacidade de simbolizar e, consequentemente, de criar beleza ao relacionar-se com o sagrado.
(…) A estética da cultura judaica como estando baseada unicamente no livro, e não no visual. (…) para fazer a mediação entre o existente e o transcendente, para conotar tanto a beleza material divina quanto o sublime espiritual em seu escopo religioso, mas também estético. A unidade da beleza material divina e do sublime espiritual só pode se inscrita no que fundamentalmente excede a qualquer ídolo estritamente material — a letra hebraica, a própria palavra hebraica.
(…) O que foi e permaneceu distintivo é a estética da palavra. (…) resultado de sua atenção e reverência inatas pela letra, pelo divino inscrito na materialidade da palavra, a cultura judaica foi, desde o início dos tempos bíblicos até a era do pós-Holocausto, singular. (…) todas as imagens visuais permaneceram estritamente subservientes à materialidade da palavra divina.
(…) A história de sucesso da moderna literatura hebraica (…) deu continuidade a uma antiga tradição baseada na estética da palavra.
(“’O Charme é enganoso, e a beleza é vã’: Reflexões sobre o Judaísmo e a Estética”. Amir Eshel, Stanford Univesity. Trad. Luís M. Sander. In: Ética e Estética. Editor Denis L. Rosenfield. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, pp. 166-175)