Coração e Alma – Willem J. Ouweneel
OUWENEEL, Willem. Coração e alma; uma perspectiva cristã da psicologia. São Paulo: Cultura Cristã, 2014, 144p.
Livro publicado pela Editora Cultura Cristã, de autoria de Dr. Willem Johannes Ouweneel, holandês, biólogo, filósofo e autor de diversos livros. Evangélico reformado que milita em contextos acadêmicos importantes. Trata-se de um livro breve, com um pouco mais de cento e quarenta páginas, e serve como uma introdução à abordagem ou movimento denominado de “Psicologia Cristã”. Este movimento, hoje crescente em diversos lugares, inclusive nos Estados Unidos e na Europa, compreende que o Cristianismo sempre se propôs a uma psicologia (“estudo da alma”) e a uma “psicoterapia” (“cuidado ou cura das almas”). Assim, segundo o autor, “este livro não trata apenas do aconselhamento, mas da psicologia cristã em geral” (p. 13).
Pensando no objeto de estudo da Psicologia, Ouweneel escreve que “a psicologia lida com o que se passa dentro de uma pessoa, bem como com o comportamento exterior dessa pessoa, concentrando-se no que tem origem na própria pessoa e na influência do ambiente sobre ela” (p. 8). Porém, a proposta dos autores da abordagem cristã, como é o caso de Dr. Ouweneel, é bastante “radical”, no sentido não necessariamente negativo deste termo. Isto é, trata-se de uma proposta que lança novas raízes e possui grande abrangência.
Os fundadores e os primeiros praticantes da psicologia experimental [“psicologia moderna, iniciada no século XIX”] tinham uma coisa em comum: todos eles viam o homem como o centro do universo (ou pelo menos de sua vida terrena) e consideravam qualquer relação que ele pudesse ter com o Criador como algo que estava além da esfera de operações do homem. Para o cristão, é claro, isso significava que os psicólogos haviam excluído, a priori, aquilo que era mais essencial ao homem. (p. 9)
Assim, o que o Dr. Ouweneel propõe é que se atenda à seguinte necessidade:
Uma psicologia radicalmente cristã, que seja construída de novo a partir do zero, desde os fundamentos. Tal psicologia cristã partiria da Palavra revelada de Deus. Essa revelação divina, que está contida na Bíblia, não nos dá apenas a verdade mais elevada acerca de Deus, mas também a maior verdade sobre o homem, sobre nós mesmos. E essa verdade é de tal natureza que nunca poderá ser alcançada por meios experimentais, só poderá ser obtida por meio da revelação divina. Essa verdade mais profunda revela a verdadeira natureza do homem para nós. Em linguagem bíblica: revela o coração do homem (pp. 9-10).
O que estamos procurando não é uma mistura […], e sim aquilo que poderíamos chamar de uma conversão da psicologia à Escritura. Em outras palavras, a psicologia atual precisa ser convertida (ou seja, virada). Seu edifício deve ser desmontado, tijolo por tijolo, e, em seguida, cada tijolo deve ser analisado individualmente para ver se é útil ou não. Alguns tijolos terão de ser jogados fora, enquanto outros serão reaproveitados depois de voltarem para o forno. Além disso, novos tijolos serão necessários. E será de suma importância constatar que todo o edifício a que chamamos psicologia terá de ser erguido sobre novos alicerces (pp. 11-12).
Com isto em vista, o autor desenvolve o seu argumento em 6 (seis) capítulos:
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1. Psicologia e Cristianismo, no qual o autor problematiza esta relação.
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2. Pontos de partida para uma psicologia cristã, em que trabalha conceitos de antropologia (estudo sobre o homem).
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3. O desenvolvimento da psicologia, no qual oferece uma visão panorâmica da história da psicologia moderna em 8 (oito) das principais escolas, dedicando uma nona seção à psicologia cristã.
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4. As estruturas mentais. Neste capítulo o autor analisa o cérebro e os hormônios, a percepção, a sensação, a dimensão cognitiva, a linguagem e a vida social.
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5. A personalidade normal. Aqui o autor analisa o ethos, isto é, a condição ético-religiosa, dedicando algum fôlego para analisar o que a Bíblia chama de “coração”.
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6. A personalidade anormal. Neste último capítulo o autor analisa o chamado “comportamento anormal”, os chamados “transtornos mentais”, a psicoterapia cristã, o aconselhamento cristão, inclusive propondo um plano básico para o aconselhamento, a atmosfera adequada para o aconselhamento e alguns procedimentos especiais no aconselhamento.
Em sua conclusão, o autor salienta:
As terapias seculares operam a partir de um ponto de vista humano – estritamente para e por seres humanos; logo, não podem deixar de ser humanistas, centradas no homem […]. Vale dizer que nenhuma ciência jamais entenderá de fato o ser humano, se ele não for visto em sua relação, como criatura e, como é o caso do cristão, como crente, a Deus, que é nosso Criador, nosso preservador e nosso redentor (p. 144).
Assim, este livro de Dr. Ouweneel constitui-se em um recurso introdutório e crítico para a análise da relação cristianismo-psicologia, e para um primeiro contato com uma proposta de psicologia cristã, como postulada por alguns acadêmicos cristãos atualmente.