Limites e Alcances do Conhecimento Psicológico – Herman Bavinck
Se tal limitação do conhecimento humano logo se torna clara no estudo da natureza inanimada, ela se torna ainda mais notável no estudo das criaturas vivas, animadas e racionais.
Isso acontece porque nessa área nós entramos em contato com realidades que não podem ser manuseadas arbitrariamente. Elas ficam diante de nós em sua objetividade e podem ser conhecidas por nós na medida em que correspondem àquilo que encontramos em nós mesmos. A vida, a consciência, o sentimento e a percepção, o entendimento e a razão, o desejo e a vontade, não podem ser desmontadas e remontadas. Não são da natureza mecânica, mas orgânica; temos que considerá-los em si mesmos e respeitá-los em sua natureza misteriosa. Desmembrar a vida é o mesmo que matá-la.
Isso vale para a maior parte da natureza humana, pois apesar de ser verdade que o homem é um ser físico e que essa dimensão não pode escapar de nossa percepção, é apenas sua manifestação externa que nós podemos perceber. Por trás dessa manifestação está uma vida misteriosa que tem em sua forma externa uma expressão imperfeita e inadequada. Até um certo ponto o homem tem a habilidade de ocultar de outras pessoas o mais íntimo de sua natureza. Ele pode controlar sua expressão facial de modo que seus músculos faciais não revelem o que está acontecendo dentro dele; ele pode usar uma linguagem que esconda seus pensamentos; ele pode, com suas ações, assumir uma atitude que esteja em conflito com o que ele pensa. E até mesmo quando nós estamos tratando com uma pessoa que despreze essas sutilezas do engano, nosso conhecimento sobre ele dependerá grandemente daquilo que, de sua parte, quiser revelar sobre si mesmo. Aliás, às vezes isso acontece de forma involuntária; o homem não tem controle absoluto sobre si mesmo, e ele frequentemente se trai sem que tenha a intenção de fazê-lo. Ao mesmo tempo ele pode, através de sua vida, de suas palavras e de seus feitos, com ou sem o seu consentimento, revelar o mistério de sua personalidade, e nós podemos conhecê-lo um pouco como ele é. O conhecimento de uma pessoa só é possível quando ela, involuntariamente ou consciente e deliberadamente o revela a nós.
(BAVINCK, Herman, 1854-1921. Teólogo sistemata holandês, que tornou-se catedrático da disciplina na Universidade Livre de Amsterdam, Países Baixos. In: Teologia Sistemática. Traduzido do inglês por Vagner Barbosa. Santa Bárbara do Oeste [SP]: SOCEP, 2001, p. 34. Tradução de Our reasonnable faith da edição holandesa, magnalia Dei, por Henry Zylstra, 1977)