A Natureza da Arte – Michael Horton
A esfera artística não é analisada da mesma forma que a política, ciência e a literatura não-fictícia. Diferente dessas disciplinas, a arte é muito mais que descritiva e didática, e seu propósito é divertir, trazer prazer e expressar uma ideia ou perspectiva sobre uma era mais ligada às impressões da imaginação do que aos argumentos e caráter descritivo de outras formas de comunicação. […]
Como ilustração, suponhamos que haja dois artistas no mesmo estúdio em Nova Iorque. A ambos foram encomendadas obras para dois propósitos muito diferentes, mas não sem relação um com o outro. Um artista foi contratado pela cidade para criar um novo mapa das ruas e estradas da cidade de Nova Iorque e seus arredores, enquanto o outro foi selecionado por um cliente para produzir uma obra visionária que retrate a essência da cidade. É melhor o criador do mapa de estradas gastar bastante tempo pesquisando os detalhes de sua tarefa, enquanto o que vai fazer um quadro terá muito mais amplidão e liberdade artística para a sua obra. Uma obra será objetiva, baseada em fatos, calculada nos mínimos detalhes; a outra será subjetiva, impressionista (aqui empregamos a palavra como adjetivo, não referência a determinada escola ou estilo de arte) e talvez nem reflita uma descrição realista do ponto de vista do cliente que a encomendou. Contudo ela trará uma vista da cidade que foge aos analistas meramente descritivos.
O filósofo da ciência Michael Polanyi observou que ‘sabemos mais do que podemos contar’. Noutras palavras, pela experiência, observação e interação com a natureza e com outros seres humanos, temos fonte de conhecimento tal que não é possível converter todos os dados em linguagem. Até mesmo numa ideia simples (por exemplo, casa, pai) existe mais do que pode ser expressado. É aqui que o artista é especialmente equipado para expressar aquilo que tantas vezes transcende a linguagem puramente descritiva.[…]
O mundo judaico era rico de figuras de linguagem e expressões artísticas, e assim, Jesus explicou sua missão não apenas com proposições diretas, mas com outros estilos, porque “sabemos mais do que podemos contar”. A expressão artística – um pouco de poesia, alguma alegoria, uma metáfora – muitas vezes comunica uma impressão ou destaca um ponto que explica mais claramente as coisas, de forma que uma proposta clara por vezes não consegue. E, todavia, essas figuras de linguagem não podem ser a base de nossa teologia.
(HORTON, Michael S. O Cristão e a Cultura. Trad. Elizabeth C. Gomes. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, pp. 75-76 e 78-79)