Pular para o conteúdo

A Máscara – Augusto dos Anjos

Eu sei que há muito pranto na existência,
Dores que ferem corações de pedra,
E onde a vida borbulha e o sangue medra,
Aí existe a mágoa em sua essência.

No delírio, porém, da febre ardente
Da ventura fugaz e transitória
O peito rompe a capa tormentória
Para sorrindo palpitar contente.

Assim a turba inconsciente passa,
Muitos que esgotam do prazer a taça
Sentem no peito a dor indefinida.

E entre a mágoa que a másc’ra eterna apouca
A Humanidade ri-se e ri-se louca
No carnaval intérmino da vida.

(“A Máscara”. Augusto dos Anjos. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996)

A Masquerade at the King's Theatre, Haymarket, ca. 1724, Giuseppe Grisoni

A Masquerade at the King’s Theatre, Haymarket, ca. 1724, Giuseppe Grisoni (Italian painter and sculptor, 1699 – 1769), Oil on canvas, Victoria and Albert Museum (V&A Museum), UK