Como surgiu a “Idade Média”
Medieval Town by Water, after 1813, Karl Friedrich Schinkel (German Painter and Architect, 1781-1841), Oil on canvas, 94 x 126 cm, Neue Pinakothek, Munich, Germany. High resolution here.
Obviamente, não foram os homens da Idade Média que a rotularam desta maneira. Eles, como todos os homens de todos os períodos históricos, se viam vivendo na época contemporânea. De fato, falarmos da “Idade Antiga” ou “Idade Média” representa uma rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de se dar nomes aos momentos passados. No caso do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que elaborou tal conceito. Com o termo “medieval” (medievo significa estar no meio) ou “médio” se expressava um desprezo indisfarçado pelos séculos localizados entre a Antiguidade Clássica e o próprio século XVI. Este se via como o Renascimento da civilização greco-romana, e portanto tudo que estivera entre esses picos de criatividade artístico-literária (de seu próprio ponto de vista, é claro) não passava de um hiato, de um intervalo. Logo, de um tempo intermediário, de uma idade média.
No século XVII já se contempla a “Idade Média” como tendo sido uma interrupção no progresso humano, inaugurado pelos gregos e romanos e retomado pelos homens do século XVI. Ou seja, para o século XVII, os séculos “medievais” também eram vistos como de barbárie, ignorância e superstição. Os intelectuais racionalistas deploravam aquela cultura muito ligada a valores espirituais.
No período iluminista se desenvolveu, ainda mais, o conceito de que a Idade Média foi uma “Idade das Trevas”. No século XVIII, antiaristocrático e anticlerical, acentuou-se o menosprezo renascentista à Idade Média, vista como momento áureo da nobreza e do clero. A filosofia iluminista da época censurava sobretudo a forte religiosidade medieval, o pouco apego da Idade Média a um estrito racionalismo e o peso político de que a Igreja então desfrutava. Será apenas com o Romantismo da primeira metade do século XIX que o preconceito em relação à Idade Média sofrerá um arrefecimento.
(Obra consultada: FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1986, 206p.)