A Importância do Ritual – Fritz Perls
Parece haver, em todos os seres humanos, uma tendência inata para o ritual, que pode ser definida como uma expressão do sentido de identificação social do homem, sua necessidade de contato com um grupo. Achamos esta tendência não apenas entre os primitivos, mas também entre grupos altamente civilizados (…).
Se numa ocasião importante não houvesse nenhum ritual — nenhum (…) aperto de mãos, discurso, cântico, nenhuma cerimônia de qualquer tipo — tudo pareceria sem sentido e vazio. O ritual parece dar a tal experiência ordem, forma e objetivo. Em termos gestálticos, poderíamos dizer que torna mais evidente, faz a figura sobressair mais nitidamente. Todos nós, por exemplo, parecemos sentir a necessidade de algum ritual para lidar com a morte. Mesmo o cidadão menos sofisticado do mundo acharia chocante se simplesmente empacotássemos nossos cadáveres e nos desembaraçássemos deles.
Ao mesmo tempo em que satisfaz uma necessidade profunda do indivíduo, o ritual tem um valor social. Isto porque reforça o valor de sobrevivência da vida em grupo. Mantém as pessoas juntas (…). Seja qual for seu valor para o grupo, o ritual — e ele é destinado a isso — interromperá pelo menos alguns dos processos espontâneos e pessoais do indivíduo no grupo.
(Friedrich Salomon Perls, 1893-1970, mais conhecido como Fritz Perls, foi um psicanalista de origem judaica, criador da psicoterapia da Gestalt. In: A Abordagem Gestáltica; Testemunha Ocular da Terapia. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1988, pp. 42-43)
Tea Time, Jan Josef Horemans the Elder (Dutch Painter, 1682-1759), Oil on canvas, 51 x 58 cm, Koninklijk Museum voor Schone Kunsten, Antwerp