Filme: “Santo Agostinho", de Roberto Rossellini
Roberto Rossellini (1906-1977) foi um diretor de cinema italiano. Seu grande momento veio no final da Segunda Guerra Mundial, quando produziu seus filmes mais aclamados, Roma, Cidade Aberta (1945, Prêmio de Melhor Filme do Festival de Cinema de Cannes), Paisà (1946) e Alemanha, Ano Zero (1947), tornando-se um dos principais expoentes do neorrealismo do cinema italiano. Em 1963, Rossellini fez o roteiro de Tempo de Guerra, de Jean-Luc Godard. Seus últimos trabalhos datam da década de sessenta, quando o cineasta trabalhou para a televisão educativa. Em 1977, aos setenta e um anos, Rossellini sofreu um ataque cardíaco e faleceu. Isabella Rossellini, filha do cineasta com Ingrid Bergman, é uma conhecida atriz e modelo.
Com direção de Rosselini, Santo Agostinho (Agostino d’Ippona), 1972, é um dos últimos trabalhos do cineasta. O filme é uma cinebiografia de Agostinho de Hipona (354-430), um dos grandes nomes do Cristianismo e um dos célebres filósofos da Humanidade. Colorido, com duração de 115 minutos, o filme é distribuído no Brasil com áudio em Português e Italiano e legendas em Português, e classificado como adequado para toda as idades. Os Extras trazem uma pequena biografia de Agostinho e detalhes da vida e obra de Rossellini.
Em Agostino d’Ippona Rossellini focaliza a principal fase da vida e obra de Agostinho: o momento em que ele se torna bispo de Hipona. Com razoável rigor histórico e realismo, o filme favorece imensamente uma melhor compreensão das grandes questões culturais e religiosas do início do quinto século, quando os bárbaros investem contra Roma e o Mundo Antigo entra em colapso. Agostinho, “o último dos antigos e o primeiro dos modernos”, é mostrado no filme em seu combate com os donatistas, em sua peculiar oratória e sermões perscrutadores, em seu serviço pastoral intenso, em algumas de suas ideias mais destacadas, com expressões de seus principais livros, como Confissões e Cidade de Deus. O filme termina com Agostinho, já idoso, diante do pão e do vinho, pregando para sua congregação em Hipona, citando conceitos básicos de seu livro Cidade de Deus, justamente nos dias em que Roma caía sob domínio dos bárbaros, e o Cristianismo era acusado de ser o grande vilão.
O filme contribui para desconstruir algumas daquelas imagens distorcidas que se impuseram ao homem e teólogo, especialmente durante o período medieval. Agostinho é apresentado com uma fisionomia parda, como ele é mais remotamente retratado. Ainda assim, o estudioso da história da teologia em geral, e da vida e obra de Agostinho em particular, irá perceber alguns anacronismos históricos, inclusive na terminologia religiosa e teológica. Um cinéfilo contemporâneo, acostumado a trilhas sonoras mais exuberantes e a um compasso de ação mais intenso, poderá achar o filme monótono. Agostino d’Ippona, não obstante, é considerado um dos melhores trabalhos de Rossellini e uma oportunidade de se conhecer um pouco mais sobre a vida e obra de um dos Pais da Igreja de maior significado para a Cristandade em geral, e do antigo campeão da graça que, particularmente neste aspecto, é um dos pais da Reforma Protestante.
Várias empresas oferecem, através da internet, o DVD para venda. Para um artigo que tenho escrito sobre Agostinho, clique aqui. Para uma biografia de Agostinho, leia: BROWN, Peter. Santo Agostinho: uma biografia. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Record, 2005. Para uma breve resenha deste livro, publicada na Revista Veja, clique aqui.