Amigo de Lutero atingido por um raio – Ferdinand Pauwels
Luther’s friend struck by lightning (Luthers Freund vom Blitz erschlagen /Amigo de Lutero atingido por um raio), 1872, Wilhelm Ferdinand Pauwels (German Belgian-born Academic Painter, 1830-1904), Oil on canvas, 120 × 120 cm, Wartburg Foundation (Wartburg-Stiftung), Eisenach, Germany.
Martinho Lutero (1483-1546) viveu a sua infância em Eisenach, Alemanha, embora não tenha nascido na cidade. Na primavera de 1501, com apenas dezessete anos, ele deu início aos seus estudos na Universidade de Erfurt, cidade conhecida como “Roma Alemã” por causa do grande número de igrejas e mosteiros, vindo a residir perto do mosteiro agostiniano. Lutero estudou na Faculdade de Artes até janeiro de 1505. O jovem estudante graduou-se bacharel em Artes em 1501. Este parece ser um reconhecimento da escolaridade básica que Lutero havia recebido até aquele momento, visto que foi recebido no mesmo ano em que ele entrou na universidade. Concluiu o mestrado em Artes em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos. Foi a partir desta data que seu pai, Hans Luther, começou a tratá-lo pela forma mais solene, isto é, por “Sie” (equivalente a “Senhor”) em vez de “Du” (Tu, Você). Obteve o conhecimento básico das chamadas “sete artes liberais”: Gramática, Retórica, Dialética, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Foi encorajado pelo pai a continuar seus estudos na Faculdade de Direito.
No entanto, em 02 de julho de 1505, um acontecimento marcante teria direcionado a sua vida para outros caminhos. Depois de uma visita aos pais, no caminho de volta de Mansfeld para Erfurt, nas proximidades de Stotternheim, já próximo de Erfurt, o jovem estudante foi surpreendido por uma fortíssima tempestade. Eram muitas as descargas elétricas, e um raio caiu próximo de onde ele passava. Aterrorizado, teria então clamado: “Ajuda-me, Sant’Ana! Eu me tornarei um monge!” Tendo sobrevivido aos raios, sem voltar para casa e sem consultar sua família, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, no mosteiro de Erfurt, em 17 de julho de 1505. Nem os seus pais, e nem os seus amigos, conseguiram dissuadi-lo.
A tela de Ferdinand Pauwels (1830-1904) retrata Lutero em campo aberto, quando buscava o abrigo de uma árvore, e um relâmpago de repente o jogou no chão. A tela retrataria o exato momento em que ele dirigiu a Santa Ana o voto de tornar-se monge. Pauwels retrata um amigo de Lutero, provavelmente Conrad Wigand, atingido por um raio. O jovem Martinho cobre com a mão direita o olho direito e com a esquerda o ouvido esquerdo. Ajoelhado junto ao amigo estirado, sente a força do vento, o que é facilmente percebido pelo movimento das roupas e dos cabelos. A boina foi lançada ao chão. Ao fundo, a árvore “reclina-se humildemente” diante do vento. Lutero dirige o olhar para cima. Os lábios estão entreabertos. Estampada no rosto, a expressão daquela intensa experência fóbica – talvez o retrato das primeiras décadas de sua vida, entretanto.
Nos dias atuais, naquele local à leste de Stotternheim, um memorial em pedra relembra o evento. “Mais tarde ele contou a história como se o próprio céu o tivesse surpreendido”, escreve Christian Feldmann. Segundo este autor, Lutero já estava pensando em tornar-se um monge, e teria mais medo da reação de seu pai. “Um voto que havia sido tomado em situação de morte não era vinculativo, mesmo de acordo com a lei medieval da igreja”, conclui Feldmann.
Confira ainda: Martinho Lutero Descobrindo a Justificação pela Fé – Edward Matthew Ward e Erasmo, Lutero e o “Livre Arbítrio”. Recomendo ainda a leitura de “Os 500 anos da Reforma Protestante, que abalou o mundo”, pela jornalista Míriam Leitão, aqui.