“Criança", leia!
Aprendi desde cedo que não se tira um livro da mão de uma criança. Se for necessário, negocia-se uma troca, uma substituição. Uma criança precisa crescer com um bom livro ao alcance. “Criança”, leia! O escritor argentino Jorge Luis Borges escreveu certa feita: “O maior acontecimento de minha vida foi, sem sombra de dúvida, a biblioteca de meu pai”. E considere que Borges sofria de um problema congênito na visão, proveniente de seus ascendentes paternos. Pais, formem uma boa biblioteca em sua casa!
A Boy with a Lesson-book, 1757, Jean-Baptiste Greuze (French Rococo Era Painter, 1725-1805), oil on Canvas, 62.5 x 49 cm, National Galleries of Scotland, Edinburgh, United Kingdom
Amo os livros. E devo muito do que sou a eles — e se não sou grande coisa a culpa é toda minha! Lá pelos anos da puberdade, ou ainda antes, eu possuía minha ficha numa biblioteca na cidade em que morávamos. Li desde Machado de Assis, José de Alencar e Monteiro Lobato, até autores mais contemporâneos à época, como Orígenes Lessa. Brasileiros e estrangeiros. Entre estes últimos, alguns clássicos: Ivanhoé (Sir Walter Scott), Robinson Crusoé (Daniel Defoe), As Aventuras de Alice no País das Maravilhas (Lewis Carroll), As Viagens de Gulliver (Jonathan Swift), Oliver Twist (Charles Dickens), Sherlock Holmes (série de Sir Conan Doyle)…
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber…
Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.(Castro Alves. In: O Livro e a América)
Quando pertenci a uma organização de meninos batistas, chamada “Embaixadores do Rei”, li muitíssimas biografias missionárias: William Carey, Adoniram Judson, Hudson Taylor, Charles Studd, David Livingstone, Salomão Ginsburg… Também fiz coleção de gibis. Acho que sempre vou gostar de cartoons. Numa época, por influência de um tio de gosto duvidoso, li também vários daqueles livros de bolso, com roteiros do western americano. Desses que a gente comprava em banca de jornal. Fiz coleção daquilo, acredita? Penso que aquela foi a “literatura” mais chinfrim que li… Enfim, o que estou tentando dizer é que não li sempre coisas do naipe de Shakespeare.
Le petit paresseux, 1755, Jean-Baptiste Greuze (French Rococo Era Painter, 1725-1805), oil on canvas, 65 x 54.5 cm, Musée Fabre, Montpellier, France
Hoje continuo lendo. Sou do tipo indisciplinado que lê vários livros ao mesmo tempo. Leio pra trabalhar, pois meu trabalho depende dos livros. Leio para estudar, pois continuo estudando (e penso que vou continuar até morrer). Leio para me informar e atualizar. E leio pelo deleitar. Neste caso, mais que leio, degusto. Bem devagar, como devemos apreciar as sobremesas finas.
Proust escreveu que “todo leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo”. Venho descobrindo que os bons leitores lêem melhor a vida. E me parece que lêem melhor as pessoas também.
Está esperando o que para começar a ser um bom leitor? Para alguns brasileiros isto pode se comparar a um trabalho de parto. Porém, creia: é compensador! Talvez alguns precisem deixar um pouco essa internet e ler um bom livro. É o seu caso?