O papel do ambiente – Georg Siegmund
Double Portrait of the Twins Clara and Aelbert de Bray, c. 1646, Salomon de Bray (Dutch Baroque Era Painter, 1597-1664), Oil on canvas. 32 11/16 x 25 9/16 in. (83 x 65 cm), Private collection, on loan to the National Gallery of Scotland
É inquestionável que até agora se exagerou extraordinariamente o valor dos dados relativos a gêmeos, tanto quantitativa quanto estatisticamente. Esqueceu-se no entanto, que os gêmeos univitelinos, por causa de suas disposições inatas comuns, se formam, via de regra, num ambiente muito mais parecido que no caso dos gêmeos bivitelinos. O homem é capaz de moldar a sua própria situação numa medida muito mais forte do que se acreditou até hoje. Erra pela base a antiga concepção de que o meio ambiente dos gêmeos varia com independência de suas disposições inatas; erradas são, por isso, também as deduções tiradas dessa concepção. Gerações de pesquisadores consideraram, sem mais, o aparecimento de psicoses dentro da mesma família, como prova de hereditariedade, sem pensarem até que ponto as psicoses influenciam o ambiente familiar e, em que medida, na sua qualidade de trauma psíquico, agem sobre cada um dos membros. Também entre os eruditos nos encontramos com esquemas preconcebidos de pensamento, que se encarregam de selecionar os dados, falsificando, com frequência, o seu conteúdo.
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Em geral, é sumamente difícil decidir se um fenômeno psíquico, que requer uma explicação, deve ser entendido como condicionado constitucionalmente pela natureza ou se representa um fenômeno relativo, portanto um fenômeno que pode ser explicado a partir do comportamento específico da pessoa face ao ambiente. Só em casos muito especiais, conhecemos as qualidades estruturais mais íntimas da natureza humana, que se designam com o nome de constituição, visto que esta nunca se nos apresenta imediatamente, mas é apenas apreensível em seus efeitos sobre a vida. Assim, nem na observação clínica nem no experimento psicológico entramos em contato imediato com a estrutura mais íntima da natureza humana.
(Georg Siegmund, 1903 -1989. In: Fé em Deus e Saúde Psíquica. São Paulo: Edições Loyola, 1971, p. 132 e 135)