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A personalidade experimentada no Outro – Wolfhart Pannenberg

The Creation of Adam, detail, Sistine Chapel ceiling, central section, c. 1508-1512, Michelangelo Buonarroti

The Creation of Adam, detail, Sistine Chapel ceiling, central section, c. 1508-1512, Michelangelo Buonarroti (Italian High Renaissance/Mannerist Painter and Sculptor , 1475-1564), The Sistine Chapel, Rome, Vatican City

Sem a atuação do espírito divino no homem não se poderia adjudicar-lhe nenhuma personalidade no sentido mais profundo da palavra. Pois personalidade tem a ver com a manifestação da verdade e inteireza da vida individual no momento de sua existência. O homem não é pessoa já pelo fato de possuir autoconsciência e por ser capaz de distinguir o próprio Eu de tudo mais e segurá-lo. Ele também não deixa de ser pessoa onde essa identidade não existe mais na autoconsciência; tampouco fica sem personalidade onde ela ainda não existe. A personalidade está fundamentada na destinação do homem, a qual sempre excede sua realidade empírica. Ela sempre será experimentada no outro, no Tu, como o mistério de um ser-eu que não se resume em tudo que é perceptível exteriormente no outro, de modo que esse outro se me depara como um ser que não é ativo somente a partir de si mesmo, mas também a partir de uma razão de sua existência em uma última análise subtraída a todo conhecimento. Embora o conhecimento psicológico possa tornar compreensível muita coisa no comportamento do outro, sempre uma origem última de sua liberdade permanece fora do alcance de toda compreensão psicológica. O que se me depara desse modo atinge-me como realidade pessoal. Aqui cabe também ainda o fato de que no outro se me depara, por meio de seu lado exterior presente sensualmente, uma inteireza da existência, subtraída a minha disposição, de tal modo que por isso sou exigido simultaneamente com minha própria vida. Isso somente é compreensível sob a premissa de que na pessoa do outro se me depara também a razão de minha própria existência. Por isso o encontro com o Tu pode dar o impulso para aperceber-se da própria personalidade, mas também pode, por outro lado, dar motivo para uma autonomia crítica perante todas as dependências intersubjetivas.

(Wolfhart Pannenberg, teólogo cristão alemão. In: Teologia Sistemática. Volume 2. Tradução Ilson Kayser. Santo André (SP): Editora Academia Cristã Ltda, Paulus, 2009, pp. 287-288)